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Água barrenta em Alter do Chão é culpa do garimpo, afirmam cientistas

Projeto MapBiomas rastreou imagens de satélite e comparou os anos de 2019, 2020 e 2021, no período da vazante, quando não há influência do Rio Amazonas com o Rio Tapajós, em Santarém

Água barrenta em Alter do Chão é culpa do garimpo, afirmam cientistas Imagens de satélite mostram pluma de sedimentos de garimpos no curso do rio Tapajós, em Alter do Chão (Foto: Observatório do Clima) Notícia do dia 24/01/2022

DEAMAZÔNIA SANTARÉM, PA - A lama que invadiu as águas do Rio Tapajós em Alter do Chão, Santarém, Oeste do Pará – região conhecida como ‘Caribe Amazônico’–, são, em grande parte, resultado de operação do garimpo ilegal em afluentes como os rios Jamari, o Crepori e o Cabitutu.

 

A constatação foi feita por cientistas em comunicado do projeto MapBiomas,  divulgado nesta segunda-feira (24.jan.2022) que rastreou o caminho dos sedimentos usando imagens de satélite de alta resolução.

 

Os cientistas afirmam ainda que parte do barro que tomou conta das águas cristalinas é natural e se deve à cheia do rio Amazonas, onde o Tapajós deságua.

Sedimentos de mineração deixam a água turva perto da foz do Rio Tapajós, na região de Santarém (PA) Foto: Observatório do Clima/Divulgação

Sedimentos de mineração deixam a água turva perto da foz do Rio Tapajós, em Santarém (PA) Foto: Observatório do Clima/Divulgação

 

Segundo os pesquisadores, esse barro natural, porém, não penetra muito no Tapajós, porque precisa ir contra a corrente, e a única explicação para o grau de turbidez da água em Alter é a intensificação das operações de garimpo do Oeste do Pará.

 

Imagens de satélite compararam o curso da bacia do Tapajós no mês de julho,  entre os anos de 2019, 2020 e 2021, no período da vazante  quando não há influência do Rio Amazonas. Segundo o relatório fica claro que o avanço das água barrenta adentra o verde azul do Tapajós rumo, a Alter do Chão, com a formação da lampa do garimpo.

Imagens de satélite mostram o avanço da pluma de sedimentos dos garimpos no rio Tapajós em julho de 2019, 2020 e 2021 — Foto: Observatório do Clima

Imagens de Satélite mostram o avanço da pluma de sedimentos dos garimpos no Rio Tapajós, em Santarém (PA), em julho de 2019, 2020 e 2021 (Foto: Observatório do Clima/Divulgação)

 

Na altura da cidade de Itaituba, capital do ouro ilegal, o rio Tapajós fica opaco, e essa turbidez avança até a foz. Na orla de Itaituba o rio Tapajós, que banha a cidade também já apresenta a coloração barrenta.

 

GARIMPO TRIPLICOU  NO TAPAJÓS

"O garimpo ilegal na Amazônia, tanto terrestre quanto em rios (com balsas) têm crescido nos últimos anos, e uma das regiões onde este crescimento foi mais expressivo é justamente na área do Tapajós, onde triplicou nos últimos 10 anos, crescendo uma área do tamanho da cidade de Porto Alegre", diz a nota técnica do MapBiomas, em uma versão preliminar divulgada hoje.

 

O trabalho foi liderado por César Diniz, coordenador técnico do mapeamento da mineração e da zona costeira do MapBiomas. A nota técnica do MapBiomas destaca, porém, que as conclusões iniciais ainda não permitem detalhar com a melhor precisão possível os pontos de onde o sedimento de garimpo saiu.

 

"Somente com as medições de velocidade e direção da corrente, além de análises laboratoriais mais detalhadas, será possível quantificar o grau de contribuição de cada uma das possíveis fontes sedimentares", escrevem Diniz e colegas. "Mas, é evidente que mudanças na coloração das águas do Tapajós e de sua foz estão se tornando cada vez mais frequentes e mais intensas e coincidem com expressivo avanço da atividade garimpeira", dizem os cientistas, na Nota.

Imagens de satélite mostram pluma de sedimentos de garimpos no curso do rio Tapajós — Foto: Observatório do Clima

Imagens de satélite mostram pluma de sedimentos de garimpos no curso do rio Tapajós ( Foto: Observatório do Clima)

 

ERIK JENNINGS

No dia 11 de janeiro, deste ano, o Portal deAMAZÔNIA publicou reportagem sobre o possível poluição da exploração de garimpo nas águas das belas praias de Alter do Chão, em Santarém, com base no monitoramento do leito do Tapajós feito pelo médico Erik Jennings que denunciou que a lama e o barro da exploração do garimpo estavam poluindo o rio da vila balneária.

 

Em sobrevoo de avião na região, o médico, que atende índios isolados, fez fotos e vídeos para mostrar determinadas partes em que o Rio Tapajós está com águas azuis e outros trechos com água na cor semelhante a do Rio Amazonas. Para Jennigns não há dúvida da influência de ações de garimpagem.

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